A quarta revolução industrial

Viver requer mudar e acolher a mudança. Estamos em constante transição,  num constante fluxo do tempo que nos últimos 20 anos tem se acelerado. 

A mudança tem progressão geométrica e traduz o que Alvin Tofler previu em 1984 quando previu o choque do futuro, que traduzia a incapacidade da sociedade enfrentar mudanças tão aceleradas.

Foi assim que introduzi minha palestra abrindo a primeira sessão do XI Congresso da Micro e Pequena Industria promovida pela Fiesp em São Paulo na segunda-feira (23/05), em um auditório com quase 2 mil empresários. 

Para introduzir a ideia de um tempo acelerado, trouxe a   velocidade dos tempos perguntando o que não existia há 20, 10 e 5 anos atrás e que hoje não pode faltar em nossas vidas.

Tem sido um exercício que sempre trago no contato com diversas audiências.   A sensação é sempre a mesma: o futuro está mais perto do que imaginamos e sentimos em poucos minutos que vivííamos outras vidas. 

Há 20 anos não havia nem Google, nem telefone celular, nem o euro que transformou a geoeconomia mundial.

Há 10 anos não havia facebook que trouxe a liquefação das relações sociais. Dá até mais assombro quando pensamos que há apenas 5 anos, gigantes da economia intangível-compartilhada como Uber e AirBnb não existiam e que hoje valem mais do que gigantes da era fóssil como Petrobras e Vale.

O mundo tem sido recriado nesses últimos (e apenas) 5 anos. Entre 2010 e 2015 tivemos mudanças que continuam transformando nossa realidade: a oferta mundial de petróleo aumentou 11% e o preço caiu 60%; o acesso ao celular cobria  19% da população e em 2015 chegava a 75%; o Facebook tinha 600 milhões de usuários, em 2015 passou para 1,6 bilhoes; o  You Tube recebia 24 horas de vídeo por minuto e passou a receber 400 horas; o eBay vendia seis ternos por minuto e passou a vender 90; o AirBnb, de 47 mil passou  para 17 milhões de clientes.  Isso tudo em apenas 5 anos!

Em maior escala, a  história tem também comprimido nossa relação com o tempo. Só observar o que aconteceu nas mudanças de eras.

Da Agricultura para a Indústria foram necessárias dezenas de milhares de anos.  Já entre a  Era Industrial e a Era da Informação se passaram apenas 200 anos.

A atual transição rumo à Era Pós-Digital ou à Era da Hiperconectividade tem passagem prevista de apenas 50 anos. 

Realidades fisicas e cibernéticas se fundem na direção de algo ainda dificil de se prever. 

A indústria vai sobreviver aos abalos sismicos da transformação digital e da transição econômica?

Pela primeira vez em sua  história. o Fórum Econômico Mundial, em janeiro desse ano, reuniu os donos do poder nos altiplanos de Davos em torno de  uma preocupante realidade que está afetando seus interesses: a crise do capitalismo.

Os debates foram para identificar novos modelos econômicos, centralizados no tema “A quarta revolução industrial”.

Ainda sob o efeito da crise financeira de 2008 que continua impactando a economia mundial, fizeram uma revisão do velho modelo, colocando-o na berlinda e  revisitando dolorosas evidências desse processo em decadência: a miséria, a desigualdade, os crescentes conflitos (intra e inter países), a degradação ecológica e pasmem, colocaram no debate o fantasma da concentração de riqueza. 

Quem poderia imaginar que esse auto-enfrentamento iria acontecer entre os que (eles mesmos) provocaram essa situação?

Com a quarta revolução industrial traçada pelo modelo de uma Industria 4.0 podemos contar com a descontinuidade de velhos modelos de produção para a convergência tecnológica NBIC (nano, bio, info e cogni) que irá passar por todas as areas do conhecimento como física, quimica, medicina, engenharia, computação e educação como um todo.

Computação na nuvem, internet das coisas, big data, redes e sensores, robótica, biologica sintética, medicina digital, bioeletrônica, computadores moleculares, nanomateriais, inteligencia artificial, impressão 3D/4D. 
Qual será a função da indústria quando estivermos todos aparelhados com estruturas de fabricação em nossas casas, produzindo e consumindo o que produzimos?

Os sistemas de transportes serão transformados em transferência de arquivos digitais da industria para a cada de cada pessoa. Quantos impactos mais estão por vir, 

Já estamos entrando nessa  Industria 4.0 mediante a hiperconectividade que não tem limites. No ano passado um bebê canadense se salvou da morte pelo implante de um coração produzido por uma impressora 3D. E a caminho, 

Já em modelos funcionando em testes, a impressão 4D que permite a autoreplicação de materiais, produzidos com o que chamam de hidrogel que em contato com a água permite que mudem de forma.  Imaginem imprimir uma bola, guardá-la, e tempos depois mergulha-la em água para que se transforme numa mesa de pingue-pongue.

No ano passado foi lançado o  primeiro scanner molecular que revela em tempo real todos os nutrientes de um alimento, o que vai tornar bulas e rótulos obsoletos. 

Fim da era fóssil e início da era solar, como já previu a futurista Hazel Henderson no inicio dos anos 80 com a obra-prima “A era da idade solar”. A revista Exame noticiou que as grandes petroleiras mundiais estão tendo que vender seus ativos e ao mesmo tempo,  Al Gore  que antes alarmou o mundo com dados cientificos do aquecimento global, hoje celebra os animadores e surpreendentes investimentos nas energias limpas, com previsões que superam 50 vezes o estimado em 2010. 

As novas economias emergentes (colaborativa, compartilhada, criativa, entre outras) têm marcado novas alternativas de viver, trabalhar, aprender, se relacionar,  vender e comprar, transacionar em fluxo,  derrubando o paradigma da escassez para o paradigma da abundância.

Moedas intangíveis cada vez mais diluídas em redes -  que vão além dos bitcoins e passam por alternativas como os programas de pontos que hoje permitem transações comerciais a  qualquer empreendimento. Moedas se desmaterializando e reinventando a lógica do  capital-dinheiro. 

Isso tudo sem falar do mundo organizacional que já há muito tempo tem passado por eliminatórias históricas. A atual  expectativa de vida das empresas listadas entre as 500 da Fortune é de 15 anos.

 Desde que a lista das 500 foi criada em 1955, 90% das empresas não existem mais e nas que ficam os CEOs não passam de seis anos no cargo, sendo substituídos pelos  gestores das  novas gerações, assim como empresas start ups são criadas por uma garotada criativa e inteligente  e vendidas por bilhões de dólares em poucos dias. 

Não resta a menor dúvida de que o futuro já chegou e começou a bater na porta das empresas, e no caso das indústrias, está dando pontapés.  

As mudanças de era  tal qual a que hoje vivemos, foram historicamente  sempre marcadas por turbulências, tsunamis, perdas e caos. 

Por essa razão, essa crise não deve ser desculpa ou fator de adiamento de planos. Ao contrário, deve nos mobilizar para sairmos do lugar confortável de fazer mais do mesmo, paralisados pelo medo de sermos incapazes ou de perdemos o que conquistamos por aquilo que antes sabíamos fazer.

Tempo de reaprender ou desaprender. O passado tem que ser referência mas não espaço de residência.  Mudar é dificil mas estagnar pode ser fatal. As indústrias, grandes, micro e pequenas,  que não aceitarem as mudanças – que são inevitáveis – terão poucas chances de sobreviverem ou estarem em situação financeiramente confortável nos próximos cinco anos.. 

A partir de tantas mudanças, a indústria 3.0  se depara com o desafio imposto pela Indústria 4.0  na busca de  caminhos para inovar não no mesmo modelo da segunda ou  terceira revoluções industriais pautadas pela obolescência e descarte.

Diante desse estado de mundo que precisa ser regenerado por processos de produção mais sustentáveis, a indústria terá que inovar com propósito e visão de longo prazo para sobreviver à velocidade do tempo e promover o  bem comum.   

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